Pensata

Eliane Cantanhêde

27/02/2010

EUA quer dar exemplo na área nuclear

O subsecretário de Estado William Burns disse em seus encontros no Itamaraty que os Estados Unidos pretendem concluir o acordo com a Rússia de redução de ogivas nucleares antes da revisão do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), em maio. Desde 2005 o TNP não registra avanços.

Nas conversas, Burns acenou, inclusive, com a possibilidade de os entendimentos com a Rússia fecharem até abril, a tempo de o presidente Barack Obama poder comemorar a novidade durante a cúpula de presidentes sobre segurança nuclear, à qual Lula deverá comparecer.

A informação de Burns foi considerada pela diplomacia brasileira como uma demonstração de que os EUA pretendem sair da retórica desarmamentista do presidente Barack Obama para ações efetivas nesse sentido. Em vez de só cobrarem medidas dos demais, eles gostariam de "dar o exemplo".

Burns reuniu-se com o chanceler Celso Amorim, depois de almoçar com a subsecretária do Itamaraty para a área política, embaixadora Vera Machado, e com o diretor do Departamento de Organismos Internacionais, ministro Carlos Duarte.

Amorim admitiu que está difícil, mas defendeu a continuação dos esforços para que o Irã se entenda com a AIEA, a agência de energia atômica. Burns respondeu que os EUA não acreditam que os iranianos cedam e negociem.

EUA batem de frente com o regime iraniano de Mahmoud Ahmadinejad, enquanto o Brasil defende diálogo e negociação, apesar da crescente ameaça do Irã de enriquecer urânio a 20% para chegar até 80%, o que significar ficar a um passo das condições de fabricar a bomba atômica.

A previsão norte-americana de acelerar o desfecho do Start (Strategic Arms Reduction Treaty, ou Tratado Estratégico de Redução de Armas) com a Rússia é uma forma de sinalizar que os EUA querem "dar a sua contribuição" ao processo, que tem três vertentes: desarmamento, não-proliferação e uso pacífico.

O cronograma nessa direção inclui o desfecho EUA-Rússia o quanto antes; a reunião de presidentes sobre segurança nuclear em Washington, no mês de abril, e, enfim, a 8ª reunião de revisão do TNP, em Nova York, em maio.

Burns indicou ontem também que, durante esse processo, os norte-americanos poderão dar uma outra indicação de que o governo norte-americano vai seguir na prática o discurso de Obama em Praga, considerado um marco na discussão nuclear. Foi quando ele saiu do discurso da pura não proliferação para defender o desarmamento.

Essa outra indicação deverá ser a ratificação, por Washington, do CTBT (Comprehensive Test BanTreaty), que proibe qualquer tipo de explosão nuclear. Ele é de 1996, mas está engavetado desde 2000, quando o governo Bill Clinton, democrata como Obama, perdeu de 51 a 49 a votação do Senado sobre ratificar ou não.

Buns e a embaixadora Vera Machado discutiram também um mecanismo de reuniões anuais entre os chanceleres dos dois países sobre diversos temas, inclusive de gênero, de políticas raciais e de democracia e desenvolvimento --que comporta a discussão, por exemplo, sobre direitos humanos em Cuba.

Mas esse assunto ficou para a semana seguinte: é quando a própria secretária de Estado, Hillary Clinton, se encontra com Lula e Amorim. Depois, é esperar o principal: Barack Obama também vem aí!

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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